Senta Lá Cláudia! - por Josimar Barros

dia 30/07/2010
 O cenário é inusitado para um programa de TV. Crianças tocam o terror enquanto a apresentadora iniciante, sob gritos e ameaças, tenta instaurar a ordem no local e acalmar os ânimos. Eles gritam, correm, perguntam, não se posicionando e não dão a mínima para ela e seus apelos: ‘Ajuda eu!’.
Isso não estava previsto no roteiro do programa. Assim como não pode se previsto em uma ficha de aula.
Quando o projeto começou imaginava as salas de aulas como a terra dos ‘ursinhos carinhosos’: alunos sempre felizes e dispostos a aprender. Respeitando-se mutuamente e compartilhando sempre. Afinal é oficina de vídeo, é algo novo, é uma oportunidade, é de graça, é legal... e encontra inúmeros motivos para justificar o interesse e desinteresse dos alunos.
O que eu não havia me dado conta, até então, é que antes de tudo cada aluno é um ser único. Que trás uma bagagem que não pode ser prevista em nenhuma ficha de aula. Desminto então aqui o jargão de que ‘Criança é tudo igual’. Isso é uma grande mentira!
Nem toda criança brinca, nem toda criança sorri, nem toda criança tem a família do comercial de margarina com papai, mamãe, irmãos e cachorrinho. Alias, algumas crianças não possuem nem margarina ou tão pouco pão para tomar café da manhã.
Entrar na área da educação me colocou em contato com realidades até então camufladas pela sociedade. E, como diria a canção do “Palavra Cantada”: ‘Criança não trabalha, criança dá trabalho!’. 
É incrível a necessidade afetiva que as crianças e adolescentes possuem.  E, quero aproveitar este texto, para destacar algumas falas de alunos que me fizeram crescer e refletir muito e pensar sobre as suas reais necessidades.
Eles precisam compartilhar:
‘Desde que meu Pai saiu de casa estou em depressão. Tenho ido ao psicólogo. Olho as pessoas em volta dando risada e penso: eu não pertenço a este lugar. Só eu não estou feliz...’
Eles precisam suprir faltas:
‘No meu aniversario meu pai, que não mora mais com a minha mãe, me deu três celulares, duas cameras digitais, um computador, muitas bonecas...’ – e a lista seguia, porem as roupas batidas denunciavam a verdade.
Eles precisam sabem e ter algo em comum:
‘-Tio, você viu o filme da Barbie e o castelo de diamantes? E o da vida de Sereia? E o da Rapunzel? E o das três mosqueteiras? E o do lago dos Cisne?...’ – E por ai seguia a filmografia da melhor atriz de todos os tempos: Barbie! (E o mais curioso de tudo é que eu realmente já havia assistido a estes filmes!).
Eles precisam agradecer:
‘É a primeira vez que pego na câmera!’
Eles precisam protestar e questionar:
‘Eu não quero ficar aqui! Quero ir pra piscina!’
São muitos rostos, muitas histórias, muitas personalidades, muito tudo.
E agora, escrevendo esta reflexão, me dou conta de como tudo isso me fez bem. Trabalhei com pessoas excepcionais com as quais aprendi muito. E não falo isso cumprindo a formalidade de agradecimentos finais, mas sim, reverenciando a pessoas que posso sem duvida alguma chamar de mestres e artistas naquilo que fazem.
E, adaptando uma frase do C.S. Lewis termino esta reflexão dizendo que ‘entrar em sala de aula não vai, primordialmente, mudar os alunos. Mas irá mudar a mim mesmo!’

Senta lá, Josi!

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